09 dezembro 2007

As lágrimas que nunca chorei...

Ideias confusas que o Outono vem ordenar em cada folha que cai dos plátanos, na calçada...
O que parece desordem está agora mais ordenado que nunca mas ninguém repara...
As folhas caem por uma ordem lógica, numa sequência de cores lógica, com cheiros que aparecem no momento exacto, num tempo de intervalos ritmados.
As pessoas acertam os passos umas com as outras, desconhecidas... e ao fim de umas horas todo movimento da cidade se desenvolve no mesmo ritmo. Todos as igrejas tocam sinos no mesmo instante, nos quertos de hora em que as flores de Outono desabrocham e minutos antes de toda a gente se arrepiar com o vento gelado que lhes toca na pele, com a mesma temperatura, com a mesma delicadeza, num instante só...
As pedras da calçada que parecem desalinhadas e colocadas aleatoriamente, formam uma sequência de cores e não poderia nenhuma delas ser colocada em outro lugar, mostram o segundo exacto em que o calceteiro martelou ali, ao mesmo tempo que o pão sai do forno na padaria e segundos antes de toda a gente sentir a presença do meu olhar...olham à volta...todos ao mesmo tempo...para um lado, depois para o outro...e toda a gente fecha os olhos olhos...
Toda a cidade de olhos fechados...
Eu em casa a desarrumar o mundo...a avaliar o ritmo apenas da minha janela!
Sei que está frio la fora mas não o sinto, sei que tudo se ordena lá fora e eu tenho cada relógio numa hora diferente, num ritmo diferente, com minutos que não são iguais em nenhum dos relógios... Vivo o meu proprio tempo, a minha própria ordem, o meu próprio ritmo... Sabendo que se tentar entrar na ordem da cidade, vou quebrar tudo, desarrumar tudo, confundir tudo...
E quando toda a cidade abrir os olhos, eu vou dormir...