02 abril 2007

Negras rimas





No branco do papel criei fogo com a ponta de um pincel.
Amei a alma, odiei a calma, furei o mundo com ternura.
E com um pouco de loucura, apaguei o sol e a lua.
Fugi daqui, fui para ali, saí do tempo, entrei no fim.
Pintei de vermelho o céu e pontuei de azul fingindo estrelas.

Parei as horas, parti ponteiros,
ouvi segundos rasteiros a segredar que me adoras.
Fingi ser criança, borboleta, andorinha...
...libelinha bailando em pontas por tras do pano,
rodopiando, sorrindo.
Imprevisível desalento, contentamento, mistura estranha...
Doce amargura que vicia.

Rasgos de caminhos eternos,
linhas da mão tatuadas, destinos, palavras de cigana.
Negras rimas, tambores, dialecto ilegível.
Transformo-me em qualquer um, em qualquer coisa...
Num só ou em dois ao mesmo tempo.
Em ti e em mim...sozinha!!

Gotas de limão à flor da pele




Chuva agressiva no vidro da janela,
no telhado...
Música no rádio que me acalma.
Um toque de Jazz, um saxofone
que me entra no ouvido como aguas calmas a cair, na fonte.
Um fio de estrelas,
flores de algodão,
gotas de limão à flor da pele.

Grãos de açucar na ponta dos dedos,
entranhados nas unhas, cravados na pele.
Gotas de sei lá o quê a bater,
a ficar, a escorrer...
...a desfazer os grãos de açucar.

Cristais de gelo nos meus olhos.
Derretem, descem por mim,
congelam de novo a tocar no peito.
Alma de malagueta,
que sentes na minha lingua quando me beijas.

Dispo-me devagar,
de olhos fechados,
a sentir cada milímetro da minha propria pele.
Chuva no rosto,
abraço teu,
múrmurios...

Chuva agressiva no vidro da janela,
no telhado...
Mãos negras dedilhando notas,
saxofone, jazz...
Um fio de estrelas,
Violetas e negras tulipas,
gotas de limão à flor da pele.


“O poema de nada escrever é sentir desgosto de ti nos meus lábios"